Uso da Toxina Botulínica Tipo A em pacientes com Neuralgia Trigeminal 2 de 7
Segundo a Classificação Internacional de Cefaleias, existem dois tipos de Neural-
gias Trigeminais, a dolorosa, que pode ser ocasionada por trauma, lesão ou infecção
viral, e a clássica que geralmente não possui causa específica, porém a dor deve se
manifestar somente na área inervada e apresentar, pelo menos, três dessas caracte-
rísticas: dor recorrente e em paroxismos, duração de uma fração de segundo a 2 mi-
nutos, intensidade grave, dor descrita como do tipo choque elétrico, fisgada, facada
ou guinada, desencadeada por estímulos inócuos [3]. Outra classificação adotada é a
que associa a neuralgia do trigêmeo a outras patologias, ao pós trauma, pós herpé-
tica, além do tipo I, que seria a dor do tipo choque elétrico, além do tipo II, que refere-
se a dores contínuas e mais longas [2].
Seu diagnóstico é considerado complexo, mas, para que seja estabelecido, ba-
seia-se nos critérios estabelecidos pela IHS e pela International Association for the
Study of Pain (IASP), além do histórico do paciente, os relatos da sintomatologia. Os
exames de imagem são indispensáveis para a determinação do diagnóstico, pois de-
monstram possíveis alterações anatômicas vasculares, neoplasias e doenças neuro-
degenerativas [1]. Além disso, a neuralgia trigeminal apresenta características seme-
lhantes a odontalgias, portanto, cabe ao cirurgião-dentista analisar e estruturar as
hipóteses para garantir um diagnóstico correto. Deve-se observar as chamadas "zo-
nas de gatilho" para que seja possível compreender o local e o gatilho da dor [4].
No entanto, existem tratamentos bem disseminados para essa algia crônica, que
agem tanto no controle da dor, quanto na recorrência. O inicial, dito de primeira es-
colha, é o farmacológico, que considera a carbamazepina, um anticonvulsivante,
como tratamento de primeira linha. Quando não se obtém sucesso com este trata-
mento ou quando o paciente apresenta farmacorresistência, novas estratégias são
traçadas, como a neurocirurgia, maneira mais invasiva, e recentemente com a nova
descoberta do uso da toxina botulínica com fins terapêuticos como uma ótima alter-
nativa, tendo em vista que é um tratamento não invasivo, confortável para o paciente,
com alta eficácia e baixos índices de efeitos colaterais [2].
Na década de 90, foi dado o início aos estudos com Toxina Botulínica (TB) após
perceber melhoras em pacientes que fizeram a aplicação na área para tratar os mo-
vimentos involuntários dos músculos da pálpebra. A neurotoxina natural é derivada
da bactéria gram positiva anaeróbia Clostridium botulinum, que tem sua ação ini-
bindo a liberação de acetilcolina nas junções dos músculos, fazendo com que o
mesmo relaxe por meio da paralisia do seu movimento, junto com os neurotransmis-
sores responsáveis pela dor, pois atua também bloqueando substâncias que partici-
pam dos processos inflamatórios e sensibilizam os nervos, causando a sensação do-
lorosa [3]. O contexto histórico no qual a Toxina Botulínica surge no ano de 1817,
onde foi publicado o primeiro artigo sobre botulismo, que seria o envenenamento
pela Clostridium botulinum. Foi identificado em uma salsicha defumada, na qual al-
gumas pessoas ingeriram e causaram a morte das mesmas, agindo no sistema ner-
voso autônomo e motor. Pode ser encontrada no solo, em animais, nas fezes huma-
nas, dentre outros. Sendo assim, a TB é considerada até os dias de hoje como uma
das substâncias mais mortais [5].
Em 1960, Alan B. Scott procurava alguma substância que ajudasse no trata-
mento do estrabismo em crianças, assim descobrindo que quando a TB era injetada
nos músculos hiperativos acontecia a reação que esperada. Após muitos estudos, na
década de 90, percebeu-se que, além de tratar espasmos na pálpebra, a TB minimi-
zava as linhas de expressão dos pacientes que faziam seu uso. Assim, iniciou-se a uti-
lização da toxina botulínica do tipo A para fins estéticos, sendo considerado um mé-
todo eficaz e seguro [6]. Com a popularização da marca BOTOX®29, em 1997 a AN-
VISA junto com o Ministério da Saúde decretou a liberação da aplicação em todo ter-
ritório brasileiro, para fins estéticos e tratamento de sudorese em mãos e pés [7].
Sabe-se que o tratamento da neuralgia trigeminal pode ser feito de forma medica-
mentosa e não-medicamentosa. Quando a utilização de anticonvulsivantes (trata-
mento de primeira linha) não apresenta a mesma melhora com o passar do tempo, é