Canal Mandibular Trifurcado Bilateral: Um Achado Radiográfico 2 de 3
Este relatório de imagem clínica apresenta um caso de duplicação do canal mandibu-
lar envolvendo canais mandibulares trifurcados bilaterais. Uma paciente de 47 anos com-
pareceu à clínica odontológica para um check-up de rotina. Ela não tinha histórico de
doença sistêmica crônica, mas relatou dor significativa durante procedimentos odontoló-
gicos anteriores nos dentes inferiores. Durante o exame clínico, foram observados múlti-
plos dentes ausentes (15, 16, 17, 18, 25, 27, 28, 36, 37, 38 e 48). Além disso, foi encon-
trada uma lesão cariosa cavitada no dente 23, que estava dolorosa à percussão vertical,
frio e calor. Uma radiografia panorâmica de rotina (Fig. 1) revelou um canal mandibular
bífido (BMC) aparente no lado direito e um canal mandibular trifurcado (TMC) no lado
esquerdo, uma variação anatômica dos canais mandibulares. Infelizmente, não foi possível
solicitar uma tomografia computadorizada, pois essa tecnologia ainda não está disponível
no país. Posteriormente, foi solicitada uma tomografia computadorizada de feixe cônico
(CBCT), que confirmou a presença bilateral de canais mandibulares trifurcados (Fig. 2).
O tratamento inicial incluiu raspagem, polimento e aplicação de flúor. Na consulta sub-
sequente, foi realizado o tratamento endodôntico no dente 23, seguido de sua restauração.
A paciente foi encaminhada para uma consulta de prótese e optou por próteses removíveis
para ambas as arcadas, superior e inferior.
O primeiro relato de caso de bifurcação do canal mandibular foi descrito por Theo-
dore A. Kiersch e Jack E. Jordun em 1973, detalhando a duplicação unilateral do canal
mandibular [1]. Posteriormente, em 2006, Sandor Bogdan et al. relataram o primeiro caso
conhecido de um canal mandibular triplo [2]. O termo "bífido" vem do latim e significa
uma divisão em duas partes ou ramos. Os canais mandibulares bífidos começam no forame
mandibular e podem conter um feixe neurovascular em cada ramo [3]. O BMC pode ser
identificado em radiografias panorâmicas. Imagens tomográficas seccionais perpendicula-
res à crista alveolar fornecem informações mais detalhadas sobre o canal mandibular e seu
trajeto preciso [3]. A triagem inicial para identificar BMCs pode ser realizada usando ra-
diografia panorâmica convencional. Se os BMCs forem diagnosticados, é aconselhável
realizar tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT) antes de proceder com ci-
rurgias mandibulares.
Além de detectar BMCs, a CBCT também pode revelar a presença de TMCs e for-
necer informações detalhadas sobre o caminho exato dos canais envolvidos [4]. O BMC
e o TMC têm implicações clínicas significativas. A anestesia inadequada pode ser uma
preocupação em qualquer tipo de bifurcação, mas torna-se particularmente crítica quando
dois forames mandibulares estão presentes. Durante a cirurgia de terceiros molares inferi-
ores, é necessária extrema cautela quando os BMCs estão localizados próximos à área mo-
lar. O dente pode penetrar ou estar localizado dentro do canal. Complicações como neu-
roma traumático, parestesia e sangramento podem surgir devido à falha em reconhecer
essa anomalia e suas implicações, envolvendo potencialmente um segundo feixe neuro-
vascular nos canais bífidos [3].
Quando os dentistas encontram falha de anestesia ao tentar bloquear o nervo man-
dibular em pacientes com BMC e nervo mandibular bifurcado (BMN), eles devem consi-
derar o uso de uma técnica alternativa de anestesia local [5]. Também é importante con-
siderar o TMC, pois essas variações podem tornar as técnicas de anestesia padrão menos
eficazes e podem exigir abordagens mais personalizadas. Além disso, sugere-se o uso de
anestésicos locais alternativos, como a articaína. É importante que os dentistas estejam
cientes dessa variação anatômica e a reconheçam para evitar complicações durante os
procedimentos odontológicos. Este caso enfatiza a importância de conhecer e identificar
variações anatômicas, como o canal mandibular bífido, para garantir o manejo adequado
do paciente e prevenir possíveis complicações.
Financiamento: Nenhum.
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa: Afirmamos que o participante consentiu
com a pesquisa endossando um documento de consentimento claro, e que a investigação
respeitou os padrões éticos descritos na Declaração de Helsinque.